Este artigo foi desenvolvido por Willian de Castro
Introdução
Projetos de investimentos na área industrial podem ser compreendidos como aquisição, reforma e/ou substituição de equipamentos, melhoria de processos produtivos, construção de novas fábricas, lançamento de novos produtos, entre outros, e todos estes por se tratarem de projetos, possuem riscos intrínsecos à sua própria natureza, contexto e planejamento original. Neste artigo o foco do gerenciamento de riscos é o projeto de substituição de três correias transportadoras de longa distância.
A substituição destes ativos envolvem alto valor monetário, mobilização de diversos recursos e riscos que podem ocorrer sob forma de ameaças ou oportunidades podendo impactar nos resultados do projeto negativamente ou positivamente. Um exemplo de correia transportadora de longa distância pode ser visto na figura 01.
Estes equipamentos estão sujeitos a desgaste ao longo do tempo e possui um período de vida útil pré-determinado. Quando este período é alcançado, é necessário fazer a substituição para manter as operações da empresa com confiabilidade. A substituição de uma correia transportadora de longa distância é considerado um projeto de investimento devido ao alto valor monetário, alocação de vários tipos de recursos e por fazer parte do planejamento estratégico da empresa XPTO pertencente ao objetivo estratégico de “confiabilidade das operações”. Este projeto contempla as seguintes etapas macro:
- Planejamento: definição de orçamentos e do escopo, elaboração do contrato, engenharia básica, engenharia detalhada e elaboração de cronogramas;
- Execução: Aquisição de materiais e equipamentos, contratação de equipe externa, mobilização dos recursos, execução em campo, desmobilização dos recursos e encerramento dos contratos.
Origem da palavra risco
Joia et al (2013) dizem que o risco faz parte de qualquer empreitada humana e juntamente com sobrevivência andam de mãos dadas ao longo da história. O autor justifica o motivo da baixa média de vida de povos como os homens pré-históricos, antigos gregos e romanos aos riscos que constantemente eram expostos pela busca de alimentos derivados da caça a animais selvagens além do tempo inclemente.
Mesmo com o desenvolvimento das comunidades, outros riscos continuaram desafiando a humanidade surgindo em países como a Suméria, Babilônia e Grécia na forma de guerras e doenças.
O autor destaca também uma relação entre risco e recompensa desde os primórdios da humanidade, já que os homens pré-históricos que corriam riscos físicos acabavam geralmente com comida, enquanto aos demais terminavam morrendo de fome, enfatizando a premissa de que quanto maior o risco, maior é a recompensa.
A diferença entre risco e incerteza
Alguns autores definem a palavra risco atrelado com a palavra incerteza, por exemplo o PMI (2017, p.397) tem a definição de risco como “um evento ou condição incerta que, se ocorrer, tem um efeito positivo ou negativo em um ou mais objetivos do projeto, como escopo, prazo, custo e qualidade” e o APM (2012), tem a definição de risco como “um evento incerto ou um conjunto de circunstâncias que, caso ocorra, terá efeito no atingimento de um ou mais objetivos do projeto”.
Apesar da semelhança entre os conceitos de risco e incerteza, há uma pequena diferença entre estes dois termos que devem ser esclarecidos conforme citado por Joia et al (2013, p.17), “podemos entender riscos como incertezas que são identificáveis, mensuráveis e relevantes para o contexto em que ocorrem. Em outras palavras, todo risco é uma incerteza, mas nem toda incerteza é risco, seja porque ela pode não ser identificável, pode não ser mensurável e/ou pode não ter impacto relevante em seu contexto”.
Em análise dos conceitos apresentados e trazendo para a realidade do gerenciamento de projetos, risco pode ser definido como um evento e/ou incerteza conhecida, mensurável que possui uma probabilidade de ocorrência e que pode impactar nos objetivos do projeto de forma negativa (ameaças) ou positiva (oportunidades) e incerteza pode ser definida como um evento no qual não se tem informação e/ou conhecimento sobre o resultado de ações futuras.
Processos do gerenciamento de riscos
O PMI (2017) define que o gerenciamento de riscos é composto por sete processos que serão detalhados a seguir, sendo:
1. Planejar o gerenciamento de riscos;
2. Identificar os riscos;
3. Realizar a análise qualitativa dos riscos;
4. Realizar a análise quantitativa dos riscos;
5. Planejar as respostas aos riscos;
6. Implementar as respostas aos riscos;
7. Monitorar e controlar os riscos;
Planejar o gerenciamento de riscos
Planejar o Gerenciamento dos Riscos é o processo de definição de como conduzir as atividades de gerenciamento dos riscos de um projeto. O principal benefício deste processo é garantir que o grau, o tipo e a visibilidade do gerenciamento dos riscos sejam proporcionais tanto aos riscos como a importância do projeto para a organização e para as outras partes interessadas. Esse processo é realizado uma vez ou em pontos predefinidos no projeto.
Identificar os riscos
O processo de identificação dos riscos individuais do projeto, bem como fontes de risco geral do projeto, e de documentar suas características. O principal benefício deste processo é a documentação de cada risco de projeto existente e as fontes gerais de riscos do projeto. Também reúne informações para que a equipe do projeto possa responder de forma apropriada aos riscos identificados. Este processo é realizado ao longo do projeto.
Realizar a análise qualitativa dos riscos
Realizar a Análise Qualitativa dos Riscos é o processo de priorização de riscos individuais do projeto para analise ou ação posterior, através da avaliação de sua probabilidade e impacto de ocorrência, assim como outras características. O principal benefício deste processo é que concentra os esforços em riscos de alta prioridade. Este processo é realizado ao longo do projeto.
Realizar a análise quantitativa dos riscos
Realizar a Análise Quantitativa dos Riscos é o processo de analisar numericamente o efeito combinado dos riscos individuais identificados e outras fontes de incerteza nos objetivos gerais do projeto. O principal benefício deste processo é que quantifica a exposição ao risco geral do projeto, e também pode fornecer informações quantitativas adicionais dos riscos para apoio do planejamento de respostas aos mesmos. Este processo não é necessário para todos os projetos, mas, quando usado, deve ser realizado ao longo de todo o projeto.
Planejar as respostas aos riscos
Planejar as Respostas aos Riscos é o processo de desenvolver alternativas, selecionar estratégias e acordar ações para lidar com a exposição geral aos riscos, e também tratar os riscos individuais do projeto. O principal benefício deste processo é que identifica formas apropriadas de abordar o risco geral e os riscos individuais do projeto. Este processo também aloca recursos e adiciona atividades em documentos do projeto e no plano de gerenciamento do projeto, conforme necessário. Este processo é realizado ao longo do projeto.
Implementar as respostas aos riscos
Implementar Respostas aos Riscos é o processo de implementar planos acordados de resposta aos riscos. O principal benefício deste processo é a garantia de que as respostas acordadas aos riscos sejam executadas conforme planejado a fim de abordar a exposição ao risco geral do projeto, minimizar ameaças individuais e maximizar as oportunidades individuais do projeto. Este processo é realizado ao longo do projeto.
Monitorar e controlar os riscos
Monitorar os Riscos é o processo de monitoramento da implementação de planos acordados de resposta aos riscos, acompanhamento dos riscos identificados, identificação e análise dos novos riscos, e avaliação da eficácia do processo de riscos ao longo do projeto. O principal benefício deste processo é que habilita decisões do projeto com base em informações atuais sobre a exposição geral de risco e riscos individuais do projeto. Este processo é realizado ao longo do projeto.
Estudo de caso – Análise e Discussão dos Resultados
A seguir serão apresentando as análises e resultados do plano de gerenciamento de riscos para o projeto de substituição da correia transportadora de longa distância.
Identificação dos riscos
Foram identificados no total de 42 riscos, sendo 41 ameaças e 01 oportunidade classificados nas categorias de Execução, Planejamento, Engenharia, Suprimentos, Meio Ambiente e Saúde e Segurança. Estes riscos estão sumarizados na tabela 01 e gráfico 01. No final do artigo são mostrados todos os riscos identificados separados por categoria.
Análise qualitativa
A avaliação qualitativa foi concluída após a consolidação do registro de riscos e com base na percepção dos participantes das sessões de identificação quanto a probabilidades de ocorrência dos riscos e seus impactos. A tabela 02 e o gráfico 02 apresentam a categoria dos riscos classificados quanto a sua severidade e o gráfico 03 mostra a matriz de P x I (probabilidade x impacto) dos riscos analisados.
Análise quantitativa
As tabelas 03 e 04 e o gráfico 04 apresentam os resultados das simulações de Monte Carlo e a curva de distribuição das probabilidades obtidas a partir do CapEx do projeto, com seus dados monetários de entrada conforme os orçamentos obtidos para o projeto.
A partir dos dados disponibilizados pela equipe do projeto a estimativa custo base simulado na presente abordagem de riscos é de R$ 15,832 milhões, sem contingências. Ele considera os valores orçados até o momento para o projeto. Para o orçamento final do projeto será utilizado o P80, ou seja, 80% de probabilidade do projeto alcançar este valor.
A simulação realizada indica que o investimento total no projeto deve situar-se na faixa dos R$ 15,832 a 28,849 milhões, com 80% de probabilidade de atingir o valor de R$ 17,518 milhões. O valor sugerido para a contingência do projeto, diferença entre o P80 da simulação e a estimativa custo base, é de aproximadamente R$ 1,687 milhões, o que corresponde a um percentual de 10,65%.
De acordo com a simulação de Monte Carlo realizada, a probabilidade de ocorrer à estimativa custo base de R$ 15,832 milhões é de aproximadamente 7%.
Plano de respostas aos riscos
A equipe do projeto elaborou o plano de resposta aos riscos contendo as estratégias e ações de resposta para todos os riscos identificados do projeto. No total foram 81 ações separadas por grau de exposição baixo, moderado e alto conforme tabela 05 e gráfico 05.
Conclusão
O objetivo deste trabalho foi elaborar e implantar um plano de gerenciamento de riscos baseado nas boas práticas do PMBOK para o projeto de substituição de três correias transportadoras de longa distância de responsabilidade do setor de manutenção da empresa XPTO.
No plano foram definidas todas as diretrizes para a equipe fazer o gerenciamento de riscos do projeto, que se iniciou com o processo de identificação dos riscos no qual foram levantadas 41 ameaças e 01 oportunidade.
Em seguida foi realizado o tratamento destes riscos através da análise qualitativa que buscou priorizar os riscos por meio da estimativa da sua severidade e pela análise quantitativa com o uso da técnica de estimativa de 3 pontos e simulações de Monte Carlo para definir a contingência financeira que resultou no acréscimo de 10,65% no orçamento total do projeto.
No plano de respostas foram definidas as ações para tratar os riscos que venha a ocorrer no projeto, fazendo assim um gerenciamento proativo.
Anexos
A seguir serão apresentados todos os riscos identificados separados pelas categorias: execução, planejamento, engenharia, suprimentos, meio ambiente e saúde e segurança.
Riscos de execução
Riscos de planejamento
Riscos de engenharia
Riscos de suprimentos
Riscos de meio ambiente
Riscos de saúde e segurança
Referências bibliográficas
ASSOCIATION FOR PROJECT MANAGEMENT (APM). APM body of knowledge. 6. ed. Bucks: APM, 2012.
JOIA, Luiz Antônio. Gerenciamento de riscos em projetos / Luiz Antônio Joia… [et al.]. – 3. ed. – Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013.
PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos: Guia PMBOK®. 6. ed.[S.l.]: PMI, 2017.
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